Olá realemte esses texto é bem interessante..valeu pela dica..bjs
28 março de 2011 às 17h18

Concordo com a avaliação da maioria a respeito das burradas e inconsequências cometidas por Adriano em sua carreira.
Ele foi antiprofissional, para dizer o mínimo, em várias situações.
Das faltas sem justificativa no Fla ao ao suposto corpo mole na Roma, de onde aparentemente teria forçado saída após um curta temporada de oito partidas sem marcar um gol.
Estou com a maioria no pensamento de que Adriano não é mais criança e merece crítica e punição por seus erros.
Deveria ser punido com maior rigor em várias situações, tanto no Flamengo como nos três times italianos que defendeu.
Tudo isso é fato.
Agora, a partir deste ponto, passo a discordar do futuro a ser imposto a Adriano a avaliação da maioria dos meus colegas de jornalismo.
Na avaliação da maior parte dos jornalistas, Adriano mereceria hoje um futuro como aquele desenhado nos versos finais do sublime
Hino de Duran, obra-prima de Chico Buarque.
Para esses, o futebol deveria fechar sobre Adriano o cerco, pregá-lo na cruz e depois chamar os urubus.
Administrar um cara como Adriano não é fácil. As provas disso estão fartamente disponíveis.
Mas, a partir daí, condenar um cara de 29 anos, com todo talento e vigor físico ainda presente, que se oferecia ao Flamengo como um gato caseiro arranhando portão, com a possibilidade de se pagar por tudo isso um salário pequeno em meio à falta evidente de atacantes do seu porte no mercado, para dar algum sentido à falta de esquema de Vanderlei, que parece estar perdido atualmente em relação ao esquema, parece-me, além de desperdício, um franco exagero.
É claro: é preciso colocar todas as multas, todas as ressalvas, todas as cláusulas de proteção.
Fazer contratos com janelas de rompimento unilateral de tempos curtos em tempos curtos, tudo isso.
Mas tentar. Tentar.
O cara é da casa, adora o clube, desistiu da Europa por isso. Mereceria ao menos mais uma chance.
Não tentar por que?
Apresentem um motivo nobre (mas efetivamente nobre, não essas picuinhas moralistas em que a gente se
apega para acertar nossos próprios recalques com o passado) que não se tente?
Quem perderia no Flamengo em caso de um contrato feito com instrumentos suficientes para permitir que Adriano seja punido e limado ao primeiro sinal que justifique isso, podendo o clube ter a certeza de que é possível ou não aproveitar o seu talento?
Quantas besteiras piores do que essa já foram configuradas no Flamengo por exclusivo capricho dos seu dirigentes?
Não tentar para não correr o risco de ter que desfazer algo que deu errado ao som de alguns “eu não falei”?
Não me parece a saída mais inteligente.
Em 2019, 2029 e 2039, a torcida rubro-negra se lembrará do aniversário do título que o Adriano arrancou nas costas, e não presidente ou do técnico de 2011.
Ok, Adriano deu dor de cabeça, fez besteira, criou constrangimentos e tal.
Mas Adriano, se quiser, joga bola, ganha títulos e faz a alegria da torcida.
Coisas que são, ou ao menos deveriam ser, objetivos finais do futebol.
O corpo de Adriano, quando ele quer, obedece. E parece que ele queria.
O empresário Gilmar Rinaldi, em entrevista coletiva dada nesta segunda-feira (28), revelou, dando os nomes das pessoas, que, desde que Adriano deixou a Roma, oito clubes brasileiros (Cruzeiro, Atlético, Grêmio, Vasco, Botafogo, Fluminense, Palmeiras e o próprio Corinthians) conversaram com ele sobre as
possibilidades de ter o atacante.
Como se percebe, ninguém é bobo.
Mesmo porque aí a gente faz o quê?
Parte do pressuposto, do imaginado anteriormente de que Adriano não terá nunca jeito e simplesmente cria uma barreira para que o cara não tenha mais na vida oportunidade em clubes à altura do seu futebol?
Não me parece a melhor saída.
Às vezes tenho a sensação (admito perfeitamente que pode ser apenas sensação) de que essa quase unanimidade em torno da
genilização do Adriano carrega algo de conservador.
Penso que o melhor seria se precaver da melhor maneira possível, em termos contratuais, e tentar. Como o Corinthians vai tentar.
Não é preciso lembrar que, mesmo aprontando das suas, Adriano chegou tarde no Flamengo em 2009, pegou um time desacreditado, foi artilheiro do Brasileirão e, com Petkovic, fez a diferença e conquistou o título mais importante da equipe no último quarto de século, praticamente.
O Flamengo tem 11 milhões de euros para trazer Vagner Love?
Não.
O Flamengo tem dinheiro para contratar agora um atacante com 75% do potencial de Adriano?
Não.
O time do Flamengo está definido taticamente a ponto de poder abrir mão de um talento matador como Adriano?
Longe disso.
Os atacantes atuais do Flamengo dão sinais, ao menos neste momento, de que darão conta do recado que aparentemente seria dado pelo Imperador?
Ainda mais longe disso ainda.
Então por que assumir essa postura de soberba e dispensar o cara, que praticamente se ajoelhava por uma vaga no grupo, como se não precisasse dele?
E depois, diretores técnicos como Luxemburgo ganham salários astronômicos e políticos como Patrícia Amorim colhem frutos eleitorais para, entre outras coisas, arrumar soluções para casos como o de Adriano.
Ednilson Souza, baiano que vive em Itapevi, na região metropolitana de São Paulo, representante típico da maioria rubro-negra contra a dispensa de Adriano, mandou-me um e-mail sobre o assunto.
Reproduzo aqui o trecho principal do texto de Rodrigues:
“Estimado Marini,
Neste processo todo do vem-não-vem do Adriano, você e seus colegas da imprensa bateram quase o tempo todo na tecla do Pacote Adriano. Em linhas gerais, vocês falam que quem levar o cara receberá, no pacote, muito mais ônus do que bônus. Mas, na minha modesta opinião, o verdadeiro pacote para o Flamengo é o Pacote Luxemburgo. Ele é excelente técnico, não há dúvida. Mas, para cada goiaba que entrega, cobra três goiabeiras depois. No caso do Flamengo, ajudou o time a se livrar do rebaixamento ano passado. É verdade. Foi a goibada. Agora virão as goiabeiras. A primeira já foi essa: ficamos sem o Adrianão.”
Pode fazer sentido, Ednilson, pode fazer sentido.
Em todo caso, se for para ganhar voto, prestígio político e dinheiro para trabalhar apenas na zona de conforto, exclusivamente com caras que não atrasam, não gritam, não dão trabalho mas também não fazem gol, situação atual do ataque do Flamengo, assim eu também quero.
Que empresa jornalística ou qualquer outro grupo empresarial não tem aquele rebelde que, apesar de todas as suas manias, vicissitudes e idiossincrasias, é mantido e admirado porque é fora de série e, como tal, traz resultados fora de série?
Patrícia Amorim, Luxemburgo e a diretoria do Flamengo erraram.
Erraram por não ter tentado.
E se Adriano, daqui para frente, virar fantasma nos jogos, estourando e enfiando
coco no Flamengo e nos outros no Brasileirão e nas outras competições, e pesadelo no travesseiro, essa turma terá uma das mais incômodas situações pela frente.
A de purgar a culpa por uma situação que é sempre a menor, menos corajosa e inspirada: lamentar o erro de sequer ter tentado.